Página:Quatro regras de diplomacia.pdf/88

Wikisource, a biblioteca livre
88

he o desejo de Sua Alteza Real e hum dos objectos da sua embaixada, como foi annunciado na carta que Sua Alteza Real lhe escreveu em 8 de outubro; igualmente V. Ex.ª podera justificar esta Côrte da demora que houve respectivamente à nossa declaração, com as razões de que V. Ex.ª está instruído pelo relatorio de toda esta negociação; isto se entende sómente se o Imperador tocar nesta materia, o que he natural, e mesmo que seja mostrando-se offendido: V. E.ª não omittirá em similhante conjunctura de lhe provar que alguma moderação a respeito das pessoas e bens dos vassallos britannicos neste paiz era absolutamente necessaria, principalmente depois de se saber que a intenção de Inglaterra foi o mandar a este porto subitamente huma esquadra para defender os mesmos particulares inglezes, surprehender a nossa marinha, e fazer sahir as fazendas de negociantes portuguezes que se achassem na alfandega e casa da India: por isso, dando-se algum favor aos Inglezes, se cuidou entretanto em mandar voltar a esquadra do Mediterraneo, e fazer as disposições necessarias para que este porto se pozesse em guarda contra algum insulto repentino. Para esta exposição e para a defeza da nossa navegação contra os Argelinos póde V. Ex.ª regular-se pelo officio que escrevi a Mr. de Champagny em data de 3 do corrente, de que V. Ex.ª tem copia.

Quando se passe a tratar da alliança, ou seja na mesma audiencia do Imperador, ou com o Ministro das Relações Externas, ou qualquer outro Plenipotenciario, deve V. Ex.ª allegar que o nosso systema politico he de allianças defensivas, porque sendo offensivas, segue-se que o Governo Britannico, logo no principio de qualquer guerra, determine apoderar-se de muitas das nossas colonias, que por dispersas no globo, e algumas não defensaveis, apresentam facilidade do conquista; porem não fara V. Ex.ª difficuldade em adoptar o systema de alliança offensiva, pois que Sua Alteza Real quer condescender, não obstante este perigo, com a vontade de Sua Magestade Imperial e Real, esperando que este Soberano queira garantir-lhe no mesmo Tratado de alliança a integridade territorial da Monarchia Portugueza, como lhe tem promettido, para se verificar na paz marítima.

Ainda que a alliança seja defensiva e offensiva na presente guerra, seria vantajoso para Portugal que nas futuras fosse unicamente defensiva, a fim de se evitarem os prejuizos repentinos que nos podem causar os inglezes, e que se acabam de referir.

V. Ex.ª ouvirá do Governo Francez os contingentes que propõe para haverem de ser fornecidos reciprocamente. Pelos Tratados de Portugal com as outras Potencias pode V. Ex.ª saber quaes foram os que se