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QUINCAS BORBA

— Fui um maluco! dizia em voz alta. Não fallava do jantar, que foi lauto, nem dos vinhos, que eram generosos, nem da electricidade própria de uma sala em que ha senhoras galantes; achava-se maluco, completamente maluco. Logo depois, a mesma alma que se accusava, defendia-se. Sophia parecia tel-o animado ao que fez; os olhos freqüentes, depois fixos, os modos, os requebros, a distincção de o mandar sentar ao pé de si, á mesa de jantar, de só cuidar delle, de lhe dizer melodiosamente cousas affaveis, que era tudo isso mais que exhortações e solicitações? E a boa alma explicava a contradicção da moça, depois, no jardim: era a primeira vez que ouvia taes palavras, fora do grêmio conjugai, e alli perto de todos, devia tremer naturalmente; demais, elle expandira-se muito, e precipitou tudo. Nenhuma graduação; devia ter ido pé ante pé, e nunca segurar-lhe as mãos com tanta força que chegasse a molestal-a. Em conclusão, achava-se grosseiro. Voltava o receio de lhe fecharem a porta; depois, tornava ás consolações da esperança, á analyse das acções da moça, á própria invenção do padre Mendes, mentira de complicidade; pensava também na estima do marido.. Aqui estremeceu.