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QUINCAS BORBA

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casa, que era na rua do Cano (Sete de Setembro), entrou no largo de S. Francisco de Paula; d'a!K desceu pela rua do Ouvidor. Ia com alguns cuidados; morava em casa de um amigo, que começava a tratal-o como hospede de três dias, e elle já o era de quatro semanas. Dizem que os de trez dias cheiram mal; muito antes d'isso cheiram mal os defuntos, ao menos nestes climas quentes... Certo é que o nosso Bubião, singelo como um bom mineiro, mas desconfiado como um paulista, ia cheio de cuidados, pensando em retirar-se quanto antes. Pôde crer-se que desde que sahiu de casa, entrou no largo de S. Francisco, e desceu a rua do Ouvidor ateados Ourives, não viu nem ouviu cousa nenhuma. Na esquina da rua dos Ourives deteve-o um ajuntamento de pessoas, e um prestito singular. Um homem, judicialmente trajado, lia em voz alta um papel, a sentença. Havia mais o juiz, um padre, soldados, curiosos. Mas, as principaes figuras eram dous pretos. Um delles, mediano, magro, tinha as mãos atadas, os olhos baixos, a côr íula, e levava uma corda enlaçada no pescoço; as pontas do baraço iam nas mãos de outro preto. Este outro olhava para a frente e tinha a côr fixa e retinta. Sustentava com galhardia a curiosidade publica. Lido o papel, o