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QUINCAS BORBA
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QUINCAS BORBA

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lhe a porta; despediu-se do cão, mas com taes carinhos, que era o mesmo que pedir-lhe que entrasse. O creado hespanhol incumbiu-se de o levar para baixo.

  • — Não lhe dê pancadas, recommendou Bubião.

Não lhe deu pancadas; mas só a descida era dolorosa, e o cão amigo gemeu por muito tempo no jardim. Bubião entrou, despiu-se e deitou-se. Ah! tinha vivido um dia cheio de sensações diversas e contrarias, desde as recordações da manhã, e o almoço aos dous amigos, até aquelh ultima idéia de metempsycose,passando pela lembrança do enforcado, e por uma declaração de amor não aceita, mal repellida, parece que adivinhada por outros... Misturava tudo; o espirito ia de um para outro lado como bola de borracha entre mãos de creanças. Comtudo, a sensação maior era a do amor. Bubião estava admirado de si mesmo, e arrependia-se; mas o arrependimento era obra da consciência, ao passo que a imaginação não soltava por nenhum preço a figura da bella Sophia... Uma, duas, três horas... Sophia ao longe, os latidos do cão embaixo... O somno esquivo... Onde iam já as três horas? Três e meia... Emfim, depois de muito cuidar, appareceu-lhe o somno, espremeu os clássicas papoulas, o foi um instante; Bubião dormiu antes das quatro.