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quarto. De manhã, era o cão que acordava o senhor, trepando ao leito, onde trocavam as primeiras saudações. Uma das extravagancias do dono foi dar-lhe o seu proprio nome; mas, explicava-o por dous motivos, um doutrinario, outro particular.

— Desde que Humanitas, segundo a minha doutrina, é o principio da vida e reside em toda a parte, existe tambem no cão, e este póde assim receber um nome de gente, seja christão ou mussulmano...

— Bem, mas porque não lhe deu antes o nome de Bernardo, disse Rubião com o pensamento em um rival politico da localidade.

— Esse agora é o motivo particular. Se eu morrer antes, como presumo, sobrevivirei no nome do meu bom cachorro. Ris-te, não?

Rubião fez um gesto negativo.

— Pois devias rir, meu querido. Porque a immortalidade é o meu lote ou o meu dote, ou como melhor nome haja. Vivirei perpetuamente no meu grande livro. Os que, porém, não souberem ler, chamarão Quincas Borba ao cachorro, e...

O cão, ouvindo o nome, correu á cama. Quincas Borba, commovido, olhou para Quincas Borba:

— Meu pobre amigo! meu bom amigo! meu unico amigo!