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QUINCAS BORBA
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QUINCAS BORBA

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antes de ir para o banho, vestir-se e dar um passeio a cavallo, reconstruiu a véspera. Tinha esse costume; achava sempre nos successos do dia anterior ülgum facto, algum dito, alguma cousa que lhe fazia bem. Ahi é que o espirito se demorava; ahi eram as estalagens do caminho, onde elle descavalgava o corpo, para beber vagarosamente um golpe d'agua fresca. Se não havia successo nenhum desses, — ou se os havia só contrários, nem por isso as sensações eram desconfortativas; bastava-lhe o sabor de alguma palavra que elle mesmo houvesse dito,— de algum gesto que fizesse, a contemplação subjectiva, o gosto de se ter sentido viver, — para que a véspera não fosse um dia perdido. Na véspera figurava Sophia. Parece até que foi o principal da reconstrucção, a fachada do edifício, larga e magnífica. Carlos Maria saboreou de memória toda a conversação da noite, mas, quando se lembrou da confissão de amor, sentiu-se bem e mal. Era um compromisso, um estorvo, uma obrigação; e, posto que o beneficio corrigisse o tédio, o rapaz ficou entre uma e outra sensação, sem plano. Ao recordar-se da noticia que lhe deu de haver ido á praia do Flamengo, na outra noite, não pôde suster o riso, porque não era verdade. Nascera-lhe a