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— Unico!

— Desculpa-me, tu tambem o és, bem sei, e agradeço-te muito; mas a um doente perdoa-se tudo. Talvez esteja começando o meu delirio. Deixa ver o espelho.

Rubião deu-lhe o espelho. O doente contemplou por alguns segundos a cara magra, o olhar febril, com que descobria os suburbios da morte, para onde caminhava a passo lento, mas seguro. Depois, com um sorriso pallido e ironico:

— Tudo o que está cá fóra corresponde ao que sinto cá dentro; vou morrer, meu caro Rubião... Não gesticules, vou morrer. E que é morrer, para ficares assim espantado?

— Sei, sei que você tem umas philosophias... Mas filiemos do jantar; que hade ser hoje?

Quincas Borba sentou-se na cama, deixando pender as pernas, cuja estraordinaria magreza se adivinhava por fóra das calças.

— Que é! que quer? acudiu Rubião.

— Nada, respondeu o enfermo sorrindo. Umas philosophias! Com que desdem me dizes isso! Repete, anda, quero ouvir outra vez. Umas philosophias!

— Mas não é por desdem... Pois eu tenho capacidade para desdenhar de philosophias? Digo só que