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QUINCAS BORBA
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QUINCAS BORBA

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a Bubião, afim de que elle visse bem que não era nada; mas, provavelmente, supporia a substituição do papel. Maldito homem! murmurou. E começou a andar á toa. Uma revoada de memórias entrou na alma de Sophia. A imagem de Carlos Maria veiu postar-se ante ella, com os seus grandes olhos de espectro querido e aborrecido. Sophia quiz arredal-o, mas não pôde; elle acompanhava-a de um lado para outro, sem perder o tom esbelto e másculo, nem o ar de riso sublime. Ás vezes, via-o inclinar-se, articulando as mesmas palavras de certa noite de baile, que lhe custaram a ella horas de insomnia, dias de esperança, até que se perderam na irrealidade. Nunca Sophia comprehendera o mallogro daquella aventura. O homem parecia quererlhe deveras, e ninguém o obrigava a declaral-o tão atrevidamente, nem a passar-lhe pelas janellas, alta noite, segundo lhe ouviu. Becordou ainda outros encontros, palavras furtadas, olhos calidos e compridos, e não chegava a entender que toda essa paixão acabasse em nada. Provavelmente, não haveria nenhuma; puro galanteio; — quando muito, um modo de apurar as suas forças attractivas... Natureza de pelintra, de cynico, de futil.