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QUINCAS BORBA
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estante. Sophia achou-se com elle entre os dedos, sem saber como, nem desde quando; ao cuidar na sua voluntária humilhação, teve um impulso — parece que raiva de si mesma, — e deu com o boneco em terra. Pobre mandarim! não lhe valeu ser de porcellana; não lhe valeu siquer ser dado pelo Palha. — Mas, minha ama, como é que o chinez... — Vá-se embora! Sophia recordou todo o seu proceder diante de Carlos Maria, as acquiescencias fáceis, os perdões antecipados, os olhos com que o buscava, os apertos de mão tão fortes... Era isso; tinha-se-lhe lançado aos pés. Depois, o sentimento foi mudando. Apezar de tudo, era natural que elle gostasse d'ella, e a conformidade moral de ambos não traria o abandono de um. Talvez a culpa fosse outra. Excavou razões possíveis, algum gesto duro e frio, alguma falta de attenção para com elle; lembrou-se que, uma vez, por medo de o receber sosinha, mandou dizer que não estava em casa. Sim, podia ser isso. Carlos Maria era orgulhoso; a menor desfeita pungia-o. Soube que era mentira... Essa era a culpa.