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QUINCAS BORBA
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lhe que o acompanhasse. Concluiu que era optimo freguez; mas, ainda assim não se lembrou de inventar nada. Passou, porém, uma senhora com um Menino, — a da rua da Saúde,—e Bubião quedou-se a olhar para ella com vistas de amor e melancolia. Aqui é que o cocheiro o teve por lascivo, além de pródigo, e encommendou-lhe as suas prendas. Se fallou em rua da Harmonia foi por suggestão do bairro d'onde vinham; e, se disse que trouxera um moço da rua dos Inválidos, é que naturalmente transportara de lá algum, na véspera,—talvez o próprio Carlos Maria, — ou porque lá morasse,— ou porque lá tivesse a cocheira,—qualquer outra circumstancia que lhe ajudou a invenção, como as reminiscencias do dia servem de matéria aos sonhos da noite. Nem todos os cocheiros são imaginativos. Já é muito concertar farrapos da realidade. Besta só a coincidência de morar na rua da Harmonia uma das costureiras do luto. Aqui, sim, parece um propósito do acaso. Mas a culpa é da costureira; não lhe faltaria casa mais para o centro da cidade, se quizesse deixar a agulha e o marido. Ao contrario disso, ama-os sobre todas as casas deste mundo. Não era razão, para que eu cortasse o episódio, ou interrompesse o livro.