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QUINCAS BORBA
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QUINCAS BORBA

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enlevo raro. Era uma paixão não sabida, não compartida, não adivinhada; paixão que ia perdendo de índole e de espécie para se converter em adoração fura. A principio, quando ella via a pessoa amada, passava por dous estados mui diversos, — um que não podia definir, alvoroço, tonteira, pancadas no coração, quasi um desmaio; o"segundo era de contemplação. Agora era quasi que só este. Tinha chorado muito, comsigo, perdera noites e noites de saudades; pagou caro a ambição das suas esperanças. Mas não perderia nunca a certeza de que elle era superior a todos os demais homens, um ente divino, que, ainda não fazendo caso delia, mereceria sempre ser adorado. — Bem, disse D. Fernanda, quando a amiga se calou de todo. Vamos ao essencial, que é não ficar penando á tôa. Não, queridinha, isto de adorar a um homem que não faz caso da gente, é poesia. Deixe-se de poesia. Olhe que só você perde no negocio, por que elle casa com outra, os annos passam, a paixão monta na garupa delles, e um dia, quando você menos pensar, accorda sem amor nem marido. E quem é esse bárbaro? — Isso não digo, respondeu Maria Benedicta, levantando-se do banco.