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QUINCAS BORBA
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QUINCAS BORBA

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Elle, baixinho, depois de certa pausa: — A mim lembra-me, como se fosse hontem. Tu chegaste de carro, não era este; era um carro de praça, uma caleça. Desceste medrosa, com o veu pela cara; tremias como varas verdes... Mas os meus braços te ampararam... O sol daquelle dia devia ter parado, como quando obedeceu a Josué... E comtudo, minha flor, aquellas horas foram compridas como diabo, não sei porque; a rigor, deviam ser curtas. Era talvez porque a nossa paixão não acabava mais,não acabou, nem hade acabar nunca... Em compensação, não vimos mais o sol; ia cahindo para o outro lado das montanhas, quando a minha Sophia, ainda medrosa, sahiu para a rua, e pegou de outra caleça. Outra ou a mesma? Creio que foi a mesma. Não imaginas como fiquei; parecia tonto, beijei tudo em que havias tocado; cheguei a beijar a soleira da porta. Creio que já te contei isto. A soleira da porta. E estive quasi, quasi a ir de rastos, beijar os degráos da escada... Não o fiz, recolhi-me, fechei-me para que se não perdesse o teu cheiro; violeta, se bem me recordo... Não, não era possível que o intuito de Bubião fosse fazer crer ao cocheiro uma aventura mentirosa. A voz era tão sumida que Sophia mal podia