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QUINCAS BORBA

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QUINCAS BORBA

Foram a pé do Flamengo á rua do Príncipe; três a quatro minutos. Baymundo estava na rua, mas viu gente á porta e veiu abril-a. O interior da casa tinha a feição do abandono, sem afixideze regularidade das cousas, que parecem conservar um resto da vida interrompida; era o abandono do desmazelo. Mas, por outro lado, o transtorno dos moveis da sala exprimiam bem o delirio do morador, suas idéas tortas e confusas. — Elle foi muito rico? perguntou D. Fernanda a Sophia. — Tinha alguma cousa, respondeu esta, quando chegou de Minas; mas parece que estragou tudo. Olhe, levante o vestido que o chão parece que não se varre ha um século. Não era só o chão; os trastes tinham a crosta da incúria. Nem por isso o creado explicava nada; olhava, escutava, e, baixinho, assobiava uma polka do dia. Sophia não lhe perguntou pelo asseio; estava morta por sahir «daquella immundicie», dizia a si mesma, e tinha vontade de fallar no cão, que era o principal motivo da visita; mas, não queria mostrar interesse por elle nem pelo resto. A trivialidade daquillo tudo não lhe dizia nada ao espirito nem ao coração; a lembrança do alienado não a