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QUINCAS BORBA
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todas as noites, ás dez horas, fitasse o Cruzeiro, elle o fitaria também, e os pensamentos de ambos iriam achar-se alli juntos, íntimos, entre Deus e os homens. O convite era poético, mas só o convite. Bubião, em quanto fallava, ia devorando a moça com olhos de fogo, e segurava-lhe uma das mãos para que ella não fugisse. Nem os olhos nem o gesto tinham poesia nenhuma. Sophia esteve a ponto de dizer alguma palavra áspera, mas engoliu-a logo, ao advertir que Bubião era um bom amigo da casa. Quiz rir, mas não pôde; mostrou se então arrufada, logo depois resignada, afinal supplicante; pediu-lhe pela alma da mãe delle, que devia estar no ceu... Bubião não sabia do ceu nem da mãe, nem de nada. Que era mãe? que era ceu? parecia dizer a cara delle. — Ai, não me quebre os dedos! suspirou baixinho a moça. Aqui é que elle começou a voltar a si; afrouxou a pressão, sem soltar-lhe os dedos. — Vá, disse elle, mas primeiro... Inclinava-se para beijar a mão, quando uma voz, a alguns passos, veiu accordal-o inteiramente.