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QUINCAS BORBA
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realidade próxima attrahiu-lhe a vista. Olhou em volta de si, mirou a alcova de solteira, arrumadinha com arte, — dessa arte engenhosa que faz da chita seda e de um retalho velho uma fita, que recama, enlaça, alegra o mais que póde a nudez das cousas, enfeita as paredes tristes, aprimora os trastes modestos e poucos. E tudo alli parecia feito para receber um noivo amado.

Onde li eu que uma tradicção antiga fazia esperar a uma virgem de Israel, durante certa noite do anno, a concepção divina? Seja onde fôr, comparemol-a á desta outra, que só difere daquella em não ter noite fixa, mas todas, todas, todas... O vento, zunindo fóra, nunca lhe trouxe o varão esperado, nem a madrugada alva e menina lhe disse em que ponto da terra é que elle mora. Era só esperar, esperar...

Agora, aquietada a imaginação e o resentimento, mira e remira a alcova solitaria; recorda as amigas do collegio e d e familia, as mais intimas, casadas todas. A derradeira dellas desposou aos trinta annos um official de marinha, e foi ainda o que reverdeceu as esperanças á amiga solteira, que não pedia tanto, posto que a farda de aspirante foi a primeira cousa que lhe seduziu os olhos, aos quinze annos... Onde iam elles? Mas lá passaram cinco