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VIDA OCIOSA

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do papo amarello me comiam leitões, quando era o mangueiro no fundo da horta, e agora, perseguem-me os peixes!

E contou-me que entre a massaroca das redes rotas encontrara a metade de uma piaba de dois palmos, magnifico peixe que poderiamos comer ao almoço.

Emquanto Prospero falava, era visivel o desgosto que sentia Americo, pelo rumo trivial que a conversação tomava. De espirito fundamentalmente scientifico, anciava por abordar questões de maior tomo; mas repugnava-lhe profanar altos problemas, mesclando-os ás phrases dispersas de uma palestra vulgar. Porfim, não se conteve, e alvitrou um conhecido expediente:

— Dr. Felix, quero um particular com o senhor.

Nunca fui amante das conversas reservadas. Lembra-me que, a primeira, foi com o meu primeiro mestre, que me chamou a um quartinho, mimoseando-me ahi com meia duzia de varadas! Já lá vão mais de tres lustros. A segunda, tive-a com um ex-futuro-cunhado, que, em noite atra, os olhos fuzilantes, um bruto cacete alçado, à guiza de mundéo, sobre minha inerme personalidade de estudante, me propoz um dilemma: “Ou casar, ou...” O logar ermo e a attitude diziam o resto. Até hoje não sei que milagroso santo me tirou dentre as aspas do terrivel Minotauro, Que embirração, inventarem os philosophos essas especiosidades escolasticas! D'esse tempo em deante, os colloquios à parte me causam horror. Sendo, porém, conhecida à natureza inoffensiva do gue me solicitava o bom Americo, accedi. Em consequencia, meu amigo travou-me o braço, e conduziu-me a seu quartinho.

IV

Os velhos não protestaram contra o despotismo do Americo, que assim me roubava, em dois tempos, ao seu convivio. E' que adivinharam que iamos falar sobre os “estudos”, Mas a este ponto precisa ser focalizada à vista do leitor, n'alguns dos seus aspectos, a alma e a situação do meu amigo.