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REVISTA DO BRASIL

cartas que lhe entregava o correio, carimbadas de França, sobre a figurinha da Semeadora.

O sonho do moço era enriquecer ás rapidas, para reatar a gostosura do idyllio interrompido.

— Paris!... Paris!... balbuciava a meia voz, nos momentos de devaneio, semi-cerrando os olhos, no antegozo do paraiso.

Sonhava-se lá, riquinho, com a Yvonne pelo braço, flanando no Bois, tal qual nos romances; e a realisação d'este sonho era o alvo de todos os seus passos. Jurára á amiga ir ter com ella, logo que a prosperidade lhe abastasse meios.

Entretanto o tempo corria, e nenhuma piabanha de vulto lhe cahia na rede. Tardava a bolada...

Em francez senegalesco, Ignacio chorincou epistolarmente, no collo da diva, nestes termos:

— Não adoece por cá nenhum rico; não ha "margem para grandes lances"; o pae está velho mas ainda rijo, além de que somos dezeseis herdeiros! Não sei quando poderei estreitar-te nos braços, ó minha...

Aqui vinham tres ou quatro comparações a fio, qual mais poetica, relembrativas do estro de Salomão quando cantava a Sulamita.

Entre os medicos antigos de Itaóca, o Dr. Ignacinho gozava pessimo renome, se um renome pessimo é coisa de gozo.

— E' uma bestinha, dizia um; eu fico pasmado mas é de sairem da faculdade cavalgaduras daquelle porte! E' medico no diploma, na barbicha e no annel do dedo. Fóra d'ahi, que cavallo!

— E que topete! accrescentava outro. Presumido, petulante e pomadista como não ha segundo. Não diz humores, ou syphilis: é mal luetico. Que pedante! Eu o que quero é pilhal-o, n'uma conferencia, para escachar...

O pae, já viuvo por essa epoca, esse babava-se d'orgulho. Filho medico, e inda por cima destabocado e bem petulante como aquelle... Era de moer d'inveja aos mais. Enlevava-o sobretudo o seu modo alcandorado de exprimir-se. Revia-se no filho, o coronel...

— A terminologia inteira da sciencia allopatha, coisas em grego e latim, circumvolve ali n'aquella cabecinha,