Página:Revista do Brasil, 1917, anno II, v V, n 17.pdf/210

Wikisource, a biblioteca livre
384
REVISTA DO BRASIL

— Este o quê?

— Este, Mendanha, é moço bonito que o que quer é dinheiro e pandega, você não vê?

— Qual! embirrinchou o teimoso, sempre ha de saber um pouco mais que os velhos; aprendeu coisas novas. No caso da Nhazinha Leandro, não a poz boa n'um apice?

— Tambem que doença!... Prisão de ventre...

— Seja prisão ou soltura, o caso foi que a curou. Mande chamar o menino.

— Olhe, olhe! depois não se arrependa!...

— Mande, mande chamal-o, e já, que não me estou sentindo bem.

Ignacinho veiu. Interrogou detidamente o major, tomou-lhe o pulso, auscultou-o com o semblante carregado, e disse, depois de longa pausa:

— Não diagnostico por emquanto, porque não sou leviano como "certos" por ahi. Sem auscultação esthetoscopica nada posso dizer. Voltarei mais tarde.

— Vê? disse Mendanha á esposa, logo que o moço partiu. Se fosse o Moura, ou qualquer dos taes, já ali da porta vinha berrando que era isto, mais aquillo. Este é consciencioso. Quer fazer uma auscultação, quê?

— Stereoscopica, parece.

— Seja o que for. Quer fazer a coisa pelo direito, é o que é.

O moço voltou logo depois, e com grande cerimonial applicou o esthetoscopio no peito magro do doente. Vincou de novo a physionomia das rugas da concentração, e por fim concluiu com imponente solemnidade:

— E' uma pericardite aguda, aggravada por uma phlegmasia hepatico-renal.

O doente arregalou o olho. Nunca imaginára que dentro delle surgissem doenças tão bonitas, embora incomprehensiveis.

— E é grave, doutor? perguntou a mulher apprehensiva.

— E', e não é, respondeu o sacerdote; seria grave se, modestia á parte, em vez de me chamarem, chamassem um desses matasanos que por ahi rabulejam. Para mim, não. Tive no Rio, na clinica hospitalar, numerosos casos mais