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POLLICE VERSO

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graves, e a nenhum perdi. Fique descançada que porei o seu marido são dentro de um mez.

— Deus o ouça! rematou a mulher, já reconciliada com a "antipathia", acompanhando-o até á porta.

— Então? perguntou-lhe o doente; fiz ou não fiz bem em chamal-o?

— Parece. Deus queira tenhamos acertado, porque isto de medicos é sorte.

— Não é tanto assim, redarguiu o velho, os que sabem conhecem-se por meia duzia de palavras, e este moço, ou muito me engano, ou sabe o que diz. Fosse o Fortunato...

E riu-se, ao imaginar as doencinhas caseiras que o Fortunato descobriria nelle.

A doença do Major Mendanha ninguem sabe qual fôra. O lindo diagnostico do Dr. Ignacinho não passava de mera sonoridade pelintra. Bacorejava ao moço que o velho tinha o coração fraco, e qualquer maromba pelo figado. Palpite. Isto, porque lhe doia a elle aqui no "vasio"; aquillo, por ser natural em organismo já combalido pela idade. Confessal-o com esta semceremonia, porém, seria fazer clinica á moda Fortunato, e desmoralisar-se. Além do mais, quem sabe não estaria ali o sonhado lance? Prolongar a doença... Engordar a maquia...

Ignacio não enxergava em Mendanha o doente, senão uma bolada maior ou menor, conforme a habilidade do seu jogo.

A saude do cliente importava-lhe tanto como as estrellas do ceu, excepção feita á cabelleira de Berenice. Como desadorasse a medicina, não vendo nella mais que um meio rapido de enriquecer, nem sequer o interessava o "caso clinico" em si como a muitos. Queria dinheiro, porque o dinheiro dar-lhe-ia Paris, com Yvonne de lambugem. Ora, o major tinha 300 apolices... Dependia, pois, da sua artimanha malabarisar aquelle figado, aquelle coração, aquellas palavras gregas, e n'um prestidigitar manhoso reduzir tudo a uns tantos contos de réis bem soantes.

A carta desse mez disse á Yvonne:

— Os negocios melhoraram. Estou mettido em uma empreza que se me afigura rendosa. Sahindo tudo a contento,