Página:Revista do Brasil, 1917, anno II, v V, n 17.pdf/486

Wikisource, a biblioteca livre
434
REVISTA DO BRASIL

trei o pharoleiro occupado em pullr os metaes da lanterna. Recebeu-me de boa sombra e largou o esfregão para fazer as honras da casa.

Examinei tudo, des alicerces ao lanternim, e á hora d'almoço já entendia de pharol mais que uma encyclopedia. Gerebita deu trela á lingua e falou do officlo com muita psychologia e melhor do que a que um romancista põe n'um romance maçador. Tambem narrou a sua vida deade menino, a grumetagem no Puru's, a sua palxão pelo mar, e por flm a entrada para o pharol aos vinte e tres annos de idade.

— "Porque, assim tão moço?

— "Caprichos do coração, má sorte, coisas... respondeu com ar triste; e accrescentou, após uma pausa, mudando de tom:

— "Pois a vida cá é Isto que vê. Boasinha, hein? Entretanto, boa ou má, temos, os pharoleiros, um orgulho: sem nós essa blcharla de ferro que passela n'agua fumando seus dols, seus tres charutos...

— "Lá vem um! interrompeu-se, apontando uma fumaça remota. E Indo á janella mirou pela luneta o pennacho.

— "Bandeira allemã, duas chaminés, rumo sul. Deve de ser um Cap, o Trafalgar, talvez. Seja lá que diabo for que vá com Deus. Mas como la dizendo, sem os pharoleiros a manobrar a "optica" esses comedores de carvão havlam de rachar atolnha ahl pelos bancos. Basta cair cerração e põe-se elles tontos, a urrar de medo pela bocca das sereias, que é mesmo um cortar a alma á gente. Porque então nem pharol nem caracol. E' a cegueira. Navegam com o perigo no leme. Fora disso salva-os o foguinho lá de cima. Pouco antes da minha entrada para aqui houve desgraça. Um cargueiro do "Bremem" rachou o bico ali no Capellão.

Quem é o Capellão? Ah! ah! O Capellão! Pois o Capellão é o ralo da terceira pedra a boreste. São tres deste lado, a Menina, que é a primeira, a Gurutula que é a do meio. A criminosa é o Capellão que reponta mais ao largo e só mostra a corôa nas grandes vasantes. Cá a bombordo inda ha duas, a Virgem e a Mallita, onde baten o Rotterdam.

— "E aquella lislnha, acolá?

— "Essa é uma coltada que nem nome tem. E' mansa, está multo perto da terra, não faz mal a ninguem. Ali mora um anequim, bichanca do tamanho do dlabo e que gosta de virar canoas. Mas aqui para nós, moço, Isso é embromação. Pelxe mora em todo o mar, não tem toca como bicho de terra. E' abusão de pescador. Quando ha mar não se enxerga nada por ali, mas se a agua serena e vem vindo a vasante, vae apparecendo um lombo de pedra lisa com geito de peixe Passa um pescador atolambado, desconhecedor da zona, vé aquillo de longe. E' anequim! é anequim! e toca a safar com o medão n'alma. Se acontece embrabecer a