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Página:Revista do Brasil, 1921, anno VI, v XVI, n 61.pdf/89

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LUCIA
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ninho de menina arteira é esta!... Arranjou geito de botar a Emilia pescando no rio é o caso é que peixe está ahi...

A vovó abriu a bocca:

— Bem diz o dictado que quanto mais se vive mais se aprende.

— Creança de hoje, Sinhá, já nasce de dente. No meu tempo, menina, assim, desse tamanho, andava no braço da ama, de chupeta na bocca. Hoje?... Credo! Nem é bom falar...

E com a menina dançando á sua frente lá se foi para o fogão, a frigir a taririnha da boneca.

AS FORMIGUINHAS



Só depois de manducar o peixe frito é que a menina se lembrou da pobre boneca que estava a tremer de frio, entanguida pelo banho.

— A coitada!... E' bem capaz de morrer de pneumonia...

E lá foi correndo cuidar della. Despiu-a e levou-a para um lugar de sol. Dum lado extendeu as roupinhas molhadas e de outro a pobre Emilia, núa em pêlo. E ia retirar-se, quando a boneca fez cara de chôro.

— Eu não fico aqui sozinha...

— E porque, sua enjoada? Tem medo que o leitão venha espiar esses cambitos?

— Espiar é o de menos, mas elle é capaz de me comer...

— Nesse caso penduro você na arvore.

— Pelo amor de Deus, Narizinho! E se as vespas me ferram?

— Boba! Não sabe que vespa não morde panno?

— E si eu cair, com o vento?

— Si cair, caiu. Grande coisa!... Boneca quando cae não se machuca. Eu é que não posso ficar neste sol toda a vida esperando que a excellentissima senhora dona Emilia seque. Quem mandou molhar-se?

— Mal agradecida... Si não fosse a minha molhadela não comias a taririnha.

— Está pensando que era uma grande coisa o tal tarira?... Só espinho...

— Mas a senhora bem que a papou, que eu vi...

— Papei porque quiz. Não tenho que lhe dar satisfações, han! disse Narizinho, zangada, pondo-lhe a lingua.

Amuaram. Mas Narizinho ficou. Lá no intimo estava com receio de deixar a boneca sozinha naquelle sertão. Podia vir o Rabicó, e quem sabe até se alguma onça...

Estava um sol quente e muito silencio no quintal.