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Página:Rosa - romance brasileiro, t1 (nova ed.).pdf/18

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— Oh meu caro Sr. commendador ! mais claro do que isto, só pós de sapatos !... está entrando pelos olhos, que eu quero dizer, que não é com uma vida toda passada em festas, bailes e theatros, que uma moça pode-se preparar para ser depois boa e cuidadosa mãi de familia.

— Entendo, disse o commendador ; o Sr. Anastacio, que ha pouco aqui nos confessou, que sua familia o destinava para o sacerdocio, e que consequentemente deu-se aos estudos graves e austeros proprios desse estado, mostra bem que ainda conserva de memoria todas as lições que aprende no seminario.

— Como é lá isso ?...

— Quer dizer que em cada casa um convento, e em cada moça uma freira : é o herdeiro das carunchosas idéas do seculo passado!

— Oh, Mauricio ! exclamou Anastacio rindo-se terrivelmente ; Mauricio, olha o Sr. commendador como falla do seculo passado !... está lembrando-se do nosso tempo.

— Mauricio, que passeava pela sala, sorrio-se e o commendador foi ás nuvens com aquella horrivel blasphemia.

— O Sr. é um cego, bradou elle, que não vê as luzes do seculo !

— Tenho assim meu receio dellas, respondeu o roceiro, porque sinto que vão quimando, com muito cousa má, muito cousa boa.

— Queria que, comod'antes, vivessem as pobres moças enterradas nos fundos das casas ; que não apparecessem a pessoa alguma, que não viessem fallar ás visitas, que se casassem sem ter visto a cara dos noives, e que apenas olhassem para a rua pelos buraquinhos das rotulas !... arripia-se agora ao ver que n'um baile sumptuoso uma bella joven