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Página:Rosa - romance brasileiro, t1 (nova ed.).pdf/20

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falla assim, Sr. Anastacio : não é só effeito dos espinhos da roça ; é rabugem de velho ; é inveja, porque já não póde fazer o mesmo.

— Sr. commendador, olhe que eu ponho tudo em pratos limpos ! digo-lhe a verdade núa e crúa, ainda que ella seja como uma mostarda, que eu lhe chegue ao nariz !

— Ordem !... ordem !.., disse Mauricio ; cinjão-se á discussão do orçamento : os Sr. tem divagado de tal modo, que me tenho mil vezes lembrado do nosso parlamento.

— Póde bradar como quizer, Sr. Anastacio, tornou o commendador Sancho, porque, apezar dos furores de todos os representantes dos velhos tempos, a sociedade progride, e a civilisação vai fazendo conquistas.

— Sim, Sr. ; tudo porém anda ás avessas do que devia andar : os moços fazem-se dignos de reprehensão, porque ostentão até os máos habitos, que são apenas supportaveis nos velhos ; e estes tornão-se ridiculos á força de queremrem parecer-se com aquelles.

— Como ?... o que quer dizer com isso ?..,

— Quero dizer que encontra-se a cada canto desta cidade não pequeno numero de verdadeiras crianças com enormes caixas de tabaco nos bolsos, e com charutos de palmo e meio na boca. Quanto aos velhos o caso é muito mais interessante.

— Então o que é ?... diga... o senhor anda-me com indirectas desde hontem a noite !

Ordem ! exclamou Maurício.

Anastacio estava vermelho, como um pimentão : levantou-se, e, pequenino como era, pôz-se nas pontas dos pés, e disse com força :

— Oh ! Sr. commendador ! ha cousa mais risivel neste mundo do que ver um homem aos sessenta