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Página:Rosa - romance brasileiro, t1 (nova ed.).pdf/27

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saberão escapar volvendo-se como um passarinho que se deslisa das mãos de uma criança. Tinha os cabellos negros; longos,luzidíos e ondeados;a fronte alva, lisa e nobre ; e seus olhos pretos traquinavão dentro das orbitas com ardor e fogo : seu nariz modelara-se pelo da mais bem acabada estatua grega ; nada poderia explicar a graça elevadora de sua boca de Madona de Raphael, com seus labios côr de nacar, escondendo iguaes e alvissimos dentes, e coroando-se de um buço feiticeiro, que simulava talvez nuvem voluptuosa, onde estivesse envolvido todo o encanto, toda doçura, toda immensa felicidade, que se póde beber no primeiro beijo de uma virgem ; a abaixo de sua boca um interessante ninho de amor na bella covinha de seu mento, que fazi lembrar a Vênus de Medicis ; a côr de seu rosto era branca, mas uns longes de rubor deixavão-se adivinhar em suas faces ; em seu peito côr de neve, e nos mysterios de seu peito havia ao mesmo tempo um céo e um abysmo de amor. Completavão os encantos dessa mulher preciosa uma cintura de fada, braços grossos e muito proporcionados, que se ligavão a mãos dígnas de uma princeza delicada, e finalmente pés modelados por canova, que uma Andalusa invejára.

Ella appareceu com os cabellos atados á napolitana ; vestida com roupão de merinó côr de alecrim, afogado, e por cima de cuja cola se debruçava um collarinho, que disputava a alvura da vene ; seu vestido, que attingia o maio gráo de simplicidade, desenhava suas fórmas graciosas, commettendo apenas o erro indesculpavel de, por muito comprido, esconder os seus pésinhos apertados em sapatos de lã preta. Para commodo, ou antes por faceirice, trazia preso á cintura um avental de seda verde escura, com ramos bordados da mesma côr.