A moça sorrio-se, sacudio a cabeça muito significativamente, e depois respondeu:
— Meu tio não comprehende o que é essa guerra feminina, que se chama um baile !... oh ! mas é uma lucta constante... terrivel... enraivada... que se não acaba nunca emfim ! A mulher hostilisa a mulher de todas as maneiras : se póde, morde-lhe o coração, espinha-lhe a vida, annuvia-lhe a fronte, murcha-lhe os labios e mancha-lhe o seio ; e se não póde, ao menos desgrenha-lhe os cabellos, e rasga-lhe o vestido !... Em uma palavra, o vestido, os enfeites, os brincos, o adereço, as flôres com que eu fui a um baile ha seis mezes passados estão ainda na memoria de todas as minhas competidoras : appareça eu amanhã, como me mostrei ha seis mezes passados, e cada uma dellas irá dizer as mesma flôres ! é tudo o mesmo ! — Oh ! mas eu me vingo tambem !... eu as sei de cór... bem de cór ! a todas ellas, uma por uma !...
— Bonito !... Sr. Mauricio, dou-lhe os parabens pela pombinha sem fel que tem em casa !
Rosa, que havia córado um pouco no fervor com que fallára, soltou uma risada ao ouvir a reflexão de Anastacio, e disse :
— Meu tio, são seis mezes para lá, e seis mezes para cá ; no fim do anno estamos pagas.
— Que puerilidades, e sobretudo quanta vaidade !...
— O que quer Vm., meu tio ? ... é a vida que os Srs. homens nos destinão ; moças solteiras, temos um toucador; casadas, a chave da dispensa; velhas, um rosario, e mais nada. Porém que me importa isto agora?... a minha questão é simples ; meu paizinho, eu quero as flôres.
— Menina, disse-lhe Mauricio, deixa-te flôres