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Página:Rosa - romance brasileiro, t1 (nova ed.).pdf/34

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vez, e acabando por decidir-se, chegou para seu pai meia risonha, meia córada, passou-lhe a mãosinha pelos cabellos, e disse :

— Meu paizinho compra-me as flôres ?...

Os tres velhos não puderão suster-se, e desataram a rir : ella tambem ria-se, e ao mesmo tempo afagava seu pai.

— Ora já viram uma tentação como esta ? exclamou Mauricio.

— Mas Vm. compra-me as flôres ?

— Nada ! eu quero que tu triumphes ; que amanhã a noite cem olhos voltem-se para a porta, esperando ver-te chegar, quero que perguntem porque não foste, que lembrem-se de ti, que sintão a tua falta : tu mesma disseste tudo isto.

— Ora, eu sou uma tola... ás vezes não sei o que digo... quasi que não me lembro de ter dito isso.

— Porém dos teus pedidos lembras-te sempre, e muito.

— E Vm. compra-me as flôres ?...

— Que teima ! não vês que teu tio reprova semelhante despeza ?..

— Meu tio não póde ser juiz neste caso.

— Essa é boa ! então porque ?...

— Porque não tem filhas.

— Não é razão sufficiente.

— Mas Vm. ha de comprar-me as flôres ?

— Veremos.

— Em uma palavra, sim ou não, meu paizinho ?...

— Não.

Rosa pensou durante curtos momentos ; emfim correu para o piano, e depois de brincar um instante no branco teclado com seus dedinhos ainda mais brancos cantou, com voz argentina, doce e graciosa ; cantou, se se póde deixar passar a expressão, com voz buliçosa e travessa uma musica viva e alegre,