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PARCERIAS ESTRATÉGICAS - NÚMERO 17 - SETEMBRO/2003

tínuo e cada notícia que surge sobre o avião coloca-o mais aflito. Esteve no Brasil em 1925 e logo seguiu para a Suíça, para a clínica de repouso Valmont, em Glion-sur-Montreux. Voltou para Paris. Seguiu para Mégève, na Suíça. De lá tentou um apelo à Liga das Nações através de seu amigo embaixador Afrânio de Melo Franco, representante brasileiro na reunião que seria realizada em 14 de janeiro de 1926: “Li em diversos jornais que se pretende limitar a ação dos submarinos, proibindo-lhes tomar parte ativa em guerras futuras, mas, que eu saiba, não se pensou na Aeronáutica. Conhece-se, no entanto, do que são capazes as máquinas aéreas. As suas proezas, no decurso da última guerra, nos permite entrever, com horror, o grau de destruição a que elas poderão atingir no futuro, como espalhadoras da morte, não só entre as forças combatentes, mas também, e infelizmente, entre pessoas inofensivas da zona de retaguarda. Aqueles, que como eu, foram os humildes pioneiros da conquista do ar, pensavam mais em criar novos meios de expansão pacífica dos povos do que em lhes fornecer novas armas de combate”[1]. E em uma outra carta lamenta-se: “Estou seguindo com tristeza as discussões na Liga das Nações! É muito triste tudo isto...”[2] De Genebra escreveu em 1926 novamente para Afrânio de Mello Franco: “Eu não vejo por que razão não se pode proibir aos aeroplanos de jogar explosivos, quando se proíbe jogar veneno na água e projeta-se proibir o uso de gases asfixiantes. Doente estou aqui, seguindo um tratamento para os meus pobres nervos”[3].

Alguns biógrafos argumentam que Santos Dumont sofria de uma esclerose múltipla, doença não diagnosticada. A verdade é que ele, por volta de 1925, entra gradualmente num estado de depressão quase permanente. Interna-se em diversos sanatórios e se queixa aos amigos do seu sofrimento continuado. “Doente aqui na Suíça, longe dos amigos, para distração, tenho tomado lições de encadernação”[4]. Ainda assim é chamado para participar de homenagens, que nem sempre pode comparecer. Em 1927, quando Charles Lindbergh atravessou o Atlântico Norte em vôo solitário, ele foi convidado para a recepção. Não compareceu, pois estava internado em Valmont-surTerritet, na Suíça. Em 3 de dezembro de 1928 chegou ao Brasil para uma visita. Seu estado de saúde inspirava cuidados especiais e o governo brasileiro decidiu recebê-lo com grande pompa. Um avião Dornier, do Sindicato

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  1. Jorge, Fernando. 1977. As lutas, a glória e o martírio de Santos Dumont. McGraw-Hill do Brasil. SP. 207 pp. P. 191.
  2. Idem. P. 192.
  3. Idem. P. 193.
  4. Idem. P. 193.