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PARCERIAS ESTRATÉGICAS - NÚMERO 17 - SETEMBRO/2003

dos aviões parece ser um pesadelo irracional. Jorge Villares, seu sobrinho, levou-o para o litoral paulista e se hospedaram no Hotel de La Plage, em Guarujá. Os ataques aéreos, entretanto, continuavam. Diante das notícias, Santos Dumont desabafou por telefone ao seu amigo professor José de Oliveira Orlandi: “Meu Deus! Meu Deus! Não haverá meio de evitar derramamento de sangue de irmãos? Por que fiz eu esta invenção que, em vez de concorrer para o amor entre os homens, se transforma numa arma maldita de guerra? Horrorizam-me estes aeroplanos que estão constantemente pairando sobre Santos”[1].

E dirigiu-se ao governador de São Paulo, Pedro de Toledo: “Solicitado pelos meus conterrâneos mineiros moradores neste Estado, para subscrever uma mensagem que reivindica o restabelecimento da ordem constitucional do país, não me é dado, por motivos de moléstia, sair de meu refúgio a que forçadamente me acolhi, mas posso ainda por estas palavras escritas afirmar-lhes, não só o meu inteiro aplauso, como também o apelo de quem, tendo sempre visado a glória de sua Pátria dentro do progresso harmônico da humanidade, julga poder dirigir-se em geral a todos os patrícios, como um crente sincero em que os problemas de ordem política e econômica que ora se debatem, somente dentro da lei magna poderão ser resolvidos, de forma a conduzir a nossa Pátria à superior finalidade dos seus altos destinos. Viva o Brasil unido”[2].

Em resposta recebeu uma mensagem assinada pelo governador de São Paulo: “A Santos Dumont, o povo paulista, por seu governador, agradece as eloqüentes palavras de apoio ao movimento constitucionalista que hoje empolga o Estado e o País. Batemo-nos pelos princípios universais da liberdade e do direito. Que aplausos nos poderia calar mais fundo no coração do que o nome universal do grande patrício?”[3]

Em 23 de julho a aviação de Getúlio atacou o litoral paulista. No meio da manhã, Santos Dumont suicidou-se. Aos 59 anos de idade o inventor do vôo dirigido punha fim à sua vida. A notícia logo se espalhou. Embora o Brasil estivesse vivendo em meio a uma revolução, a morte de Santos Dumont era um fato que ultrapassava diferenças políticas: era uma perda mundial.

“O dia 23 de julho foi de luto para o Brasil. Faleceram o coronel Julio

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  1. Idem. P. 200.
  2. Moura, Jair Pinto de. 1933. A fogueira constitucionalista. Editorial São Paulo. SP. 188pp. P. 64.
  3. Idem. P. 64.