Página:Santos Dumont - o vôo que mudou a história da aviação.pdf/35

Wikisource, a biblioteca livre

PARCERIAS ESTRATÉGICAS - NÚMERO 17 - SETEMBRO/2003

Santos Dumont desenvolveu os projetos com o dinheiro recebido por herança. Como lembrou Gabriel Voisin, um dos mais proeminentes precursores do vôo, em 1952: “Contavam-se sobre nosso amigo brasileiro várias lendas. Diziam que possuía uma fortuna imensa! Ora, esta fortuna era somente uma situação remediada. Mas, como explicar o gesto deste homem que distribuía prêmios concedidos à performances a instituições de caridade?... Estas liberalidades não podiam, aos olhos do público, apoiar-se senão sobre uma fortuna fabulosa. Nada disso: Santos Dumont era a própria generosidade, a elegância inata, a bondade e a retidão. Dava sem contar e sem prever, movido por uma virtude irresistível... Não deixou como herança senão o seu nome gravado em nossos corações. Os que o conheceram não puderam deixar de amá-lo”[1]. Tinha recursos, o que permitiu investir continuamente no desenvolvimento de seus projetos, sem sofrer os impactos de políticas efêmeras que mudam numa velocidade maior do que o tempo necessário para se chegar a resultados interessantes. Neste sentido, o Brasil perdeu a oportunidade de iniciar uma indústria aeronáutica forte. Isto poderia ter acontecido já nos últimos anos da década de 1910, ou em outras ocasiões mais recentes, quando já existia um certo grau de desenvolvimento técnico, resultados promissores no estudo de materiais apropriados e a construção de protótipos. Faltou a sensibilidade política para permitir a abertura de um novo mercado para o produto nacional. Assim como Santos Dumont, praticamente todos os outros inventores dispunham de recursos, ou próprios, ou vindos do investimento de governos, que permitiram realizar um trabalho sistemático e de longa duração até a obtenção de máquinas eficientes.

(Rio de Janeiro, janeiro, 2003)
Agradecimentos:

A Sophia Helena Dodsworth Wanderley, que gentilmente permitiu a consulta a um vasto material sobre seu tio-avô, Alberto Santos Dumont, cuidadosamente organizado por seu marido, brigadeiro Nelson Freire Lavènere-Wanderley. Ao brigadeiro Araguaryno Cabrera Rei e a Rodrigo Moura, por valiosas informações e idéias.

337

  1. Citado em : Villares, Henrique Dumont. 1957. Quem deu asas ao homem: Alberto Santos Dumont, sua vida e sua glória. MEC. RJ. 422pp. P. 280.