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<poem> Do berço á tumba dista um passo de creança; A vida é uma flôr que a viração desfolha, Um sonho passageiro, um sonho vão d′esp′rança, Que nos sorri e foge — e que nunca mais se ólha.

A vida é turbilhão, onde paixões enormes Combatem com fervor batalhas monstruosas; A perfidia villã compõe traições disformes, A cobardia esconde as garras cavilosas.

A adulação bajula os grandes potentados, Despreza a viuvez, a velhice e a orphandade, Quando ellas vão pedir o pão dos desgraçados, Estendendo da sombra a mão á caridade.

Já vês que o mundo é mau. Se por acaso leres, Nos dias d′infortunio, este meu pobre canto, Lembra-te que teu pae, antes de tu nasceres, Teu berço humedeceu com abundante pranto.


13 de Abril de 1878.