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O′ lua, tu, que tens reflectido no pranto
De mais d′um infeliz os teus raios siderios,
Desvendaste do amor os innumeros mysterios?

— Talvez!...
O mar, a lua, o sol, a primavera,
A natureza emfim, que é nossa mãe austera,
Tem fortes crispações de extranho movimento.
A tempestade, a paz, o cahos e o firmamento,
As luctas da materia, as transições do esp′rito,
Desde o odio inclemente ao affecto materno,
Desde a alegria leda ao soffrimento afflicto,
São paginas fataes, escriptas pelo Eterno
Que a humanidade lê e por mais que medita
Não póde comprehender.
O′ crença tão bemdicta,
Que immensuravel és! desde o Creador ao homem,
Da casta sensitiva ás heras parasitas,
Das infernaes paixões que o peito nos consomem
A′s crenças varonis bem fundamente escriptas
Em nossos corações, entreabre-se um abysmo
Fascinador, voraz, a que a Philosophia
Que faz a Evolução nas forjas do realismo,
Inda não fez baixar um só raio do dia!

III


Ter dentro em nôs o amor, a inspiração e a crença,
Um coração que pulsa, um cerebro que pensa,
A luz d′um ideal, que nos illumina e guia,