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Como um brilhante sol, nos ceus da phantasia,
E ver, pouco e pouco, desfazer-se a esperança,
Sentir que o coração já de pulsar se cança,
Que se vae apagando aquelle nosso ideal
Nas trevas infernaes, ao vir do vendaval;
Ver em cada uma estrella o rosto illuminado
Da formosa mulher, que nos tem fascinado,
E em cada uma flôr, — a recender perfumes,
Como dardejam luz esses sagrados lumes,
Que tem em si o fogo, a espelhação do aço
Que vão a deslumbrar, na amplidão do espaço,­ —
A imagem da sua alma, immaculada e franca,
Como o olhar de Jesus e a alvura da hostia branca;
Depois fitar o ceu e vel-o já deserto,
Olhar para essa flôr e vel-a resequida,
Buscar dentro do peito o espectro d′um affecto,
(Do peito sem amor, sem fé e já sem vida!)
E′ triste expiação a quem só fez o crime
De ter um coração, apaixonado e amante,
Que louco se curvou, flexivel, como um vime,
A′ luz d'um terno olhar, traidor e fulminante!

E é essa a expiação cruel que tem haurido
Esta alma, angustiada em duro soffrimento,
Desde que viu passar o bando foragido
Das suas illusões, na aza do pensamento.