Página:Semana Illustrada 324.djvu/6

Wikisource, a biblioteca livre
2590
SEMANA ILLUSTRADA.

— Que tal, almirante? perguntou o seu visitador o marechal Argolo.

— Estes paraguayos são muito mal creados, nem respeitão as visitas, foi a resposta do intrepido almirante, dada a rir-se e com a mais perfeita paz de espirito.

Os dous guerreiros, comprehendendo-se, apertarão-se as mãos e proseguirão no exame ao som de mais algumas bombas jogadas pelas baterias dos paraguayos.




Amar.

(em relação ao homem)

SONETO

Amar — é um viver impaciente,
Que tem mais de penoso que delêdo;
E’ um mal, que nos mata, tarde ou cêdo...
Com dores mais crueis que a dôr de dente:

Amar — é uma febre intermittente,
Que degenera em typho que faz mêdo;
E’ da vida nos mares um torpedo,
Que no abysmo arremessa a muita gente:

Amar — é andar sempre n’um sarilho;
E’ virado trazer sempre o miolo;
Jogar, e perder sempre de codilho;

Amar — é d’margura o peior bolo;
E' uma embriaguez de peralvilho,
Um documento authentico de tolo.


Amar.

(em relação á mulher)

SONETO

Amar — é um fingir a cada instante,
Um dizer — sim ou não — de hora em hora;
E’ cantar de sereia, que namora,
Attrahe e perde o infeliz viajante:

Amar — é para o misero aspirante
Ter por dentro uma cousa, outra por fóra;
E’ no balcão, onde a perfídia móra,
Pedra falsa impingir por diamante:

Amar — é de Cupido no mercado,
A ver qual é melhor, ter mais de um socio,
E dar — o que não presta por quebrado;

Amar — é um synonimo de ócio;
E’ paia o casamento um laço armado;
Um ramo, como outros, de negocio.


Janeiro de 1867.




Um convite ao mais feio.


Quando alguem do povo vê algum indivíduo de cara feia e nada sympathica, diz logo, se ha quem o ouça, ou diz a si mesmo se está isolado, não deve nada ao Diogo.

Um estimável filho da Grã-Bretanha, feio como o Thersytos de que falia a Iliada, recebeu de uma sociedade de ratões, a que pertencia, um bonito canivete sob a condição de dal-o ao primeiro que lhe levasse as lampas em fealdade.

O amavel bretão correu secca e meca em busca de fearrões que o fizessem bonito.

Qual! não achou um só. Consumio cinco annos na busca e já se dispunha a morrer na crença profunda de que era o homem menos bonito do universo.

Veu para o Brasil e estabeleceu-se na Côrte.

Estando um dia na praça, olha por acaso para um estimavel feio, tambem natural do norte da Europa.

Vel-o e soltar um grito foi acto simultaneo.

Dirige-se ao collega, convida-o a que lhe ouça duas palavras, leva-o para um angulo da sala da frente e apresenta-lhe o canivete, que sempre trazia a mão de semear.

— Para que é isto, senhor, pergunta-lhe o intimado.

Então o intimante explica-lhe o voto da sociedade e insta-o para que receba o presente, a que tem perfeito jus.

O intimado rio-se e tendo a consciencia de que merecia a offerta, recebeu-o e agradeceu.




Friburgo.


Teus montes altivos de nuvens cobertos,
Cascatas mimosas de lymphas tão puras,
Teus vales amenos de flores ornados
As dores transformão da vida em ventura.

O sol quando nasce, deixando teus montes
Por entre a neblina derrama mil cores,
Adorna teus bosques, esmalta teu céo
E enche teus prados de ricos primores.

Quão linda eu te vejo no tempo invernoso
Risonha no valle da aurora ao raiar,