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SEMANA ILLUSTRADA.
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Eu já tinha almoçado com Aurora.

Nicoláo trouxe a nata, sobremesa que meu tio nunca dispensava no almoço. Regeitou-a. O preto carregou os sobr'olhos admirado. Poz-lbe o café na chicara; sorveu-o a tragos e, emfim, levantou-se.

Levantei-me também.

– Agora venha esta sobremesa melhor que todas as natas, disse abrindo os braços.

Atirei-me a elles como o prodigo aos de seu pai.

(Solucei deveras pela primeira vez em dias de minha vida. Pela primeira vez a modo que vi lagrimas nos olhos de meu tio.

Este capitulo ia tomando fórma de eça?

CAPITULO XV

Nascerão-me naquelle dia os dentes do sizo.

Oito mezes depois, fui examinado e aprovado com laude em latim e francez. Após dous annos, em geographia e historia, philosophia, rhetorica e lingua-tupy. Presisidio aos exames um bispo.

As pitadas de algebra e geometria, inglez, physica e chimica, tomei-as mais tarde aqui no Rio de Janeiro.

Reunindo tudo o que sei, só fico sabendo conscienciosamente que careço aprender tudo de novo.

(Continúa).




Bahia, 29 de Julho de 1867.

Illms. Srs. Redactores da Semana Illustrada.

Lendo quatro sonetos do Sr. Francisco Moniz Barreto, o Amar, e o Casar, senti que o illustre poeta se esmerasse em afinar a sua lyra, para metter a ridículo não só o sentimento mais sublime que póde conter o coração humano, como tambem o sagrado laço, que legitima esse sentimento.

Notando a subtileza com que o insigne cantor torna a mulher odiosa, até nos sonetos em relação ao homem, como mulher, que tem encontrado no casamento a realisação dos sonhos mais poéticos de sua alma, ousei responder ao canto do Sr. Moniz Barretto. Eu bem conhecia quanto era arrojada aempreza; mas, como tinha por alliadas a justiça e a verdade, contava triumphar, e creio que o consegui.

Espero que V., como juizes conscienciosos, julgando-me com imparcialidade, dar-me-hào razão, e desculparáõ a liberdade que tomo de enviar-lhes esses dous sonetos, pedindo-lhes a publicação delles, caso os não achem indignos dessa honra

Com a mais subida consideração sou etc.




Amar.

(em relação ao homem e á mulher)

SONETO

Amar — é Bernardim, triste gemendo,
Do bella Infanta a ausência lamentando;
E’ Pedro a esposa ao tumulo roubando,
E de rainha o sceptro lhe rendendo.

Amar — é, sim, Moêma perecendo
Nas vagas que vencer busca, nadando;
E’ Virgínia o retrato inda abraçando
De Paulo, quando a engole o abysmo horrendo

Amar — é verbo de mvsterio infindo:
Amarga taça, que tem mel no fundo;
Martyrio que se soffre, ás vezes rindo.

Amar — é sentimento em bens fecundo;
E’ o septimo céo, o céo mais lindo
Gosar no pobre, miseravel mundo.


Casar.

(em relação ao homem e á mulher)

SONETO

Casar — é a união santificada,
De duas almas n’uma só vontade;
E’ um laço que applaude a sociedade:
Uma prisão por Deus abençoada.

Casar — é ter, na vida afortunada,
Captiveiro melhor que a liberdade:
E’, de remorso isempta a humanidade
Entregar-se ao prazer de ser amada.

Casar — é pensamento concebido
No melhor dos momentos do Senhor.
E por todas as lingoas traduzido.

Casar — é um poema encantador,
Que mais enleva quanto mais é lido;
Que em todas as estrophes diz: amor!



Correio da Semana. — Não por falta de merecimento, mas por ir alem do programma que adoptamos, deixamos de publicar a poesia intitulada De ruim planta máo fructo, com que nos obsequiou o talentoso Sr. Sisno de Fachéra.

Barranca de Curupaity.

A gravura que hoje publicamos com este titulo, foi desenhada no Paraguay pelo distincto official da nossa armada, o joven Antonio Quintiliano de Castro e Silva.


Typ. do Imp. Inst. Artistico — Largo de S. Francsico n. 16.