Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/165

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sua resposta de que havia de “escrever agradecendo”, manifestava bem seu pensamento: era uma alusão. Guida se desculpava consigo mesma, dizendo que Daniel era mais do que um simples criado: era um homem da confiança de seu pai. O convite por esse intermédio parecia-lhe tão delicado, como por carta, sem a solenidade que ela justamente não lhe queria dar.

Se Guida desejava anteriormente a presença do moço em sua casa, agora mais que nunca. Duas razões atuavam em seu espírito. A contrariedade do obstáculo e a vontade de desvanecer uma ofensa involuntária. O que fora até então uma lembrança delicada apenas, mudava-se em capricho.

Capricho? Quem não sabe o que isso é? A palavra o está dizendo. É a alma da mulher que se precipita sobre uma ideia, com a mesma temerária vivacidade e petulância da cabra selvagem a arremessar-se pelas arestas do despenhadeiro.

Guida sentou-se ao piano e começou a preludiar.