Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/182

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que a classifico bem dizendo que faríamos o ponto de transição entre o parasita e o criado; formaríamos o elo desses dois anéis da cadeia.

— Com efeito! Modéstia tão requintada degenera em orgulho. Entendes que não sendo dos primeiros, te rebaixas?

— É outra fragilidade que eu não tenho, Fábio, esse fofo orgulho da pobreza, que serve de forro a um fingido desprezo da riqueza. Não me envergonho de ser pobre, de parecê-lo e confessar em qualquer ocasião; mas estou longe de fazer da minha pobreza uma espécie de dorna de Diógenes. A falta de dinheiro pesa-me, sem contudo me acabrunhar; e justamente porque ela me pesa, me elevo mais em minha consciência, sentindo-me incapaz de cobiçar a fortuna adquirida por meios ilícitos. Estás portanto enganado, meu amigo; não tenho orgulho, mas dignidade.

— É a mesma cousa com diverso nome.

— Não: o orgulho é um impulso para elevar-se acima dos outros; a dignidade é a firmeza, que não consente descer da posição que nos compete.