Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/201

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no ermo, à face de Deus; talvez fosse um amor infeliz.

— Se eu pudesse saber a sua história!

Adormeceu; e sonhou que encontrara a florinha agreste cor de ouro, e que esta lhe contara a razão por que o moço a beijava. Mas de manhã não se lembrava mais da história; só lhe ficara a imagem fugitiva do sonho.

As moças afagam muito os sonhos, quase tanto como costumam as mães aos primeiros filhos. A razão é porque os sonhos são os primeiros filhos da imaginação da menina que chega à adolescência. Os desejos vagos, as tímidas esperanças, os perfumes do coração, que não se animam a exalar-se durante o dia, recendem à noite, no abandono do sono, como o aroma de certas flores que só abrem com o orvalho.

Guida ocupou-se durante o dia com o seu sonho; e passando pelo mesmo lugar onde na véspera encontrara Ricardo, desejou ver a flor e conhecê-la. Viu com efeito; achou-a muito linda; desde esse dia ficaram amigas. Sempre