Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/203

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vago, indistinto, no fundo das reminiscências da moça. Fora um homem, um homem qualquer, que passara um momento no horizonte de sua existência, e só lhe aparecia agora como uma sombra.

O que estava bem gravado na alma de Guida, o que ela afagava em algum momento de cisma, não era o moço, não; mas cousa muito diversa. Era a linda flor agreste, a quem amava; era o formoso cavalo, que desejava ardentemente possuir; era finalmente a aquarela do álbum, que ansiava por ver. Ricardo não figurava nas recordações da menina, senão como um amigo da flor amada, como o dono do cavalo cobiçado, e o autor do desenho misterioso.

Sem dúvida era agradável ao espírito de Guida que a pessoa ligada a ela por essas relações, fosse um moço distinto pela inteligência e educação. Nas poucas vezes que de relance vira o advogado, a moça tinha reconhecido ou antes pressentido nele com o tato da mulher os dotes do espírito e do coração.