Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/219

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se atrapalhava; e todo o resto do dia levou a quebrar esquinas, até que exausto de fome e de cansaço, acocorou-se no vão de uma porta, a engolir as lágrimas que lhe queriam saltar aos bugalhos.

Passava um menino de volta do colégio, acompanhado de seu pajem, que sentindo lhe puxarem pelo jaquéu, voltou-se e viu o lapuzinho, de mãos postas a implorá-lo.

— Que tem você? perguntou-lhe com pena.

— Me perdi!

O menino era o Barros, filho do consignatário, onde já estava de caixeiro João Barbalho. Levou o caipirinha para a casa; e a família compadecida o agasalhou, mandando em busca do velho roceiro, que não foi possível encontrar apesar de todas as pesquisas. Resolvido a encarreirar o rapazito, o consignatário o arranjou de caixeiro em casa de um cambista; e aí começou ele a carreira que devia levá-lo ao apogeu da riqueza.

De gênio franco e jovial, tinha Soares uma fonte perene de alegria, com que orvalhava as agruras da vida; mas através dos risos e pilhérias,