Página:Sonhos d'ouro (Volume I).djvu/221

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humildade de sua origem, ele a fazia frequentemente; e percebia-se que tinha sua vaidade em ter subido de tão baixo àquela sumidade financeira. Custava-lhe a compreender o vexame do Barão do Saí, quando aludiam ao começo de sua carreira, e por isso estava sempre a apoquentar o amigo chamando-o de Barão do Lote, com o que este se resmoía.

Ficou pois o Soares comendador, por uso e cortesia, como tanta gente boa; e ninguém havia nesta corte imperial que não o acreditasse inscrito no grande livro das ordens; no que de todo não erravam, pois era ele terceiro de São Francisco de Paula. Mas este Santo não consta que fosse cavaleiro, e palmilhava como qualquer plebeu sem esporas, nem prosápias.

Em cartas, sobretudo nas de empenho, em listas de acionistas de banco, chapas de diretores, e gazetilhas, lá vinha estampado o infalível “comendador”; que aderira ao nome do Soares, como uma dessas alcunhas implacáveis que perseguem certos indivíduos toda a vida, e afinal colam-se à geração, criam raízes e transmitem-se a toda a descendência.