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Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/151

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Ricardo tinha experiência e sabia que a palavra sincera e convencida é pedra solta e não edifica neste país; é preciso pôr-lhe um cimento: o medo, a comodidade, o lucro, a paixão, etc.

Quando, fatigado de excogitar em vão, punha o ânimo à larga, espraiando a vista pela Praça de São Francisco de Paula, aonde saía naquele instante, deu com os olhos em Guida. Diante dele acabava de parar uma meia vitória, tirada por duas mulas possantes.

O lacaio, saltando da almofada, em vez de correr a abrir a portinhola, foi tirar questão com o cocheiro de uma diligência, que impedia a vitória de chegar à boca da Rua do Ouvidor.

— Psiu, olá, patrão, deu fundo aí?

— O largo é bem grande, respondeu o outro empoleirado.

— Não vê que é o carro do Sr. Comendador Soares? retorquiu o moleque com a insolência do lacaio de um milionário.

— É melhor que os outros?... Se tem muito dinheiro, guarde-o, que passa-se muito bem sem ele.