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Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/195

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homem por quem sentisse as doces emoções, os estremecimentos, que fazem a felicidade conjugal. Donde provinha isto, não sabia explicar o romancista, e menos eu. Não teria coração essa moça, ou se lhe havia cegado? Era isso efeito da educação, ou da sociedade em que vivia, cercada de galanteios ridículos, de cálculos vis, e de grosseiras afeições? Pode ser que sucedesse à alma da moça o mesmo que a um botão de cacto, quando há tempestade: chocha e não abre em flor. Pode ser!

— Mais tarde. Quem sabe! disse Ricardo sorrindo.

— É a minha...

Atalhou-se Guida em cujas faces espontava um vislumbre de púrpura. Ricardo olhava-a com emoção.

— “É minha esperança”, repetiu Guida pausadamente. Assim disse a moça, uma vez que lhe acudiu esse mesmo pensamento. Mas os dezoito anos eram passados; fugia o tempo, e seu pai que a amava extremosamente, afligia-se com a ideia de a deixar só no mundo à mercê da especulação.