Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/208

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E invejou a felicidade de sua rival, sem contudo querer-lhe mal. Ao contrário, sentia curiosidade de conhecê-la; e acreditava que havia de ter-lhe amizade.

Durante alguns dias viveu Guida no embevecimento de sua paixão. Sentava-se ao piano, e escolhia as músicas ternas e sentimentais, que tocava com muita alma e expressão. As notas, que tantas vezes tinham ressoado a seus ouvidos apenas como agradável harmonia, feriam-lhe agora as cordas mais íntimas, e percutiam todo o seu organismo, como uma vibração elétrica.

Outras vezes esquecia-se a cismar, com os olhos engolfados no azul do céu, onde rutilavam as primeiras estrelas; ou enlevada a contemplar uma flor, cujos perfumes derramavam-se dentro d'alma com uma fragrância celeste, e cujo matiz aveludado afagava-lhe a vista, como um beijo da luz.

Não raro se tingiam esses devaneios de uma sombra de melancolia, quando o espírito da moça voltava-se para o futuro e o via tão esplêndido submergir-se em um abismo inexorável, o impossível.