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Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/209

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Mas amava, sentia-se viver no seu amor; e o pensamento, recolhendo-se a esse limbo suave de sua nova existência, esquecia o mundo, o tempo, a sorte, para embeber-se de felicidade e exaurir-se nesse gozo supremo da paixão.

Foi Soares quem a arrancou a esse longo êxtase.

Uma tarde que ela cismava no jardim, o pai viu-a da janela, e foi-lhe ao encontro com ar brincão:

— Ai, minha sonsinha!... Temos novidade, hem! E não me queres dizer?

— O que, papai? perguntou Guida arrancada à sua cogitação.

— Como disfarça! Pediste um mês para escolher; mas creio que estes olhinhos andaram mais depressa. Nessa idade eles pulam... Desconfiei logo; quando te vi pelos cantos, toda sorumbática, percebi. O bichinho está fazendo artes lá no coraçãozinho da minha Guida. Não é verdade?

Estas palavras brincadas, e envoltas na ternura risonha do pai, retalharam a alma da moça. No meio do enlevo de seu amor, quando não vivia senão