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Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/252

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no jardim; vem comigo; passaremos lá a noite.

— Tens razão, respondeu Ricardo apertando-lhe a mão. Neste momento preciso muito daquele gramo de loucura, com que o poeta manda temperar o juízo; e que realmente é o melhor sal da razão, pois a preserva de corromper-se.

Começava o crepúsculo.

Apesar da sombra que já havia no jardim, sobretudo onde copava o arvoredo, perceberam as duas moças a profunda alteração da fisionomia de Ricardo, não que estivessem descompostas suas feições, mas havia nelas a impressão digna e fria da dor vencida após uma luta heroica.

Guida envolveu em seu olhar compassivo o rosto do mancebo e murmurou dentro d'alma:

— Como ele a amava!...

Entretanto D. Guilhermina procurava reanimar a conversa:

— É um milagre, vê-lo, já não digo em nossa casa, porque a não ser uma visita de cartão, não lhe merece mais; mas aqui! Nem passando lembrou-se de entrar.