Página:Sonhos d'ouro (Volume II).djvu/265

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Então revoltando-se contra si mesmo, em vez de me dizer: — “Sou livre, aceito” — ao contrário, procura cavar um abismo que o separe para sempre de mim, a fim de não sucumbir à tentação. Não pode mais amar? Pertence à outra para sempre? Pois bem! Assim é que eu o quero, para afastá-lo tanto desse pesadelo, vivido sem mim, que não se lembre de ter jamais amado a outra mulher.

Estes pensamentos não os alinhou Guida em palavras na mente, mas desenhavam-se como figuras de painel iluminadas de repente por um jacto de luz. Também não duraram senão o tempo de abrir a carta de Bela, que a moça amarrotara entre as mãos, quando comprimira a arfagem do seio.

Leu Guida uma e duas vezes. Na segunda, sua mão caiu-lhe desfalecida. Compreendera tudo: divisara naquele papel mudo o pensamento de Bela como perscrutara pouco antes o segredo do advogado através de suas palavras confusas.

Dobrou a moça a carta enquanto se dominava e aproximou-se de Ricardo:

— Bela o ama, como eu pressinto que havia