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Transcrição e tradução integral anotada das cartas dos índios Camarões, escritas em 1645 em tupi antigo

A resposta às cartas de seus parentes potiguaras somente nos chegou por meio de sua tradução em holandês, tendo-se perdido o texto original em tupi antigo. Em sua resposta a Felipe Camarão, Pedro Poti escreveu: “Sou cristão e melhor do que vós, creio só em Cristo; . . . . aprendi a religião cristã e a pratico diariamente” (Hulsman, 2006, p. 60).

Pedro Poti era capitão da Aldeia Miageriba e foi feito regedor da Paraíba em 1645. Quando as cartas de seus parentes lhe foram dirigidas, ele estava no Forte de Santa Margarida, na Paraíba. Há relatos sobre sua vida desregrada e propensão ao alcoolismo, tendo ele sido repreendido pela administração holandesa mais de uma vez. Foi aprisionado em 19 de fevereiro de 1649, na segunda batalha de Guararapes, e ficou preso no Forte do Cabo de Santo Agostinho. Segundo Antônio Paraupaba,

. . . foi açoitado, sofreu toda a sorte de tormentos e foi atirado em um buraco escuro, tendo as mãos e pés presos juntos por correntes de ferro, recebendo por alimento menos do que um pouco de água e de pão, e lá ficando por seis meses, chafurdando em sua própria sujeira (Hulsman, 2006, p. 59).

Segundo relatou Paraupaba, esses flagelos tinham por objetivo fazer Pedro Poti abjurar a fé calvinista e voltar ao seio da Igreja Católica. Segundo ele, tais tentativas foram vãs e Pedro Poti conservou firme sua convicção na Igreja Reformada. Depois de dois anos e meio em prisão portuguesa, foi levado para Portugal e faleceu no navio em que era conduzido preso (Hulsman, 2006).

ANTÔNIO PARAUPABA

Antônio Paraupaba era originário da Capitania do Rio Grande. Seu local exato de nascimento não é conhecido. Acompanhou os holandeses que tentaram invadir a Bahia em 1625, junto com seu pai, Gaspar Paraupaba. Na Holanda, tornou-se calvinista e aprendeu holandês. Voltou ao Brasil em 1631, quando, então, os holandeses já estavam no domínio de Pernambuco. Ele acompanhou Maurício de Nassau quando este voltou à Holanda em 1644 e, com o início da Insurreição Pernambucana, em 1645, foi designado capitão e regedor do Rio Grande. Esteve à frente do massacre de Uruaçu, ocorrido em 3 de outubro, em que vingou o massacre de Serinhaém, de 17 e 18 de agosto de 1645, comandado por Felipe Camarão e pelos chefes luso-brasileiros.

Diferentemente de Pedro Poti, Antônio Paraupaba não foi capturado pelos portugueses e seguiu para a Holanda, quando acabou a guerra, em 1654, acompanhado por sua esposa Paulina e seus três filhos, ainda crianças, tendo lá falecido dois ou três anos depois. Na Holanda, ele dirigiu requerimentos ao governo pedindo que socorresse os potiguaras que se haviam aliado aos holandeses na guerra e que sofriam duramente no Brasil sob o governo português (Hulsman, 2006).

GASPAR CARARU

O nome de Gaspar Cararu está mencionado na ata de uma assembleia dos índios reunidos na aldeia de Tapisserica, no ano de 1645 (ver a nota 52). O documento refere-se a ele como sendo da aldeia Miageriba, a mesma de Pedro Poti. Ele era um dos mais importantes chefes potiguaras aliados dos holandeses. Quando Pedro Poti foi aprisionado em 1649, na segunda Batalha de Guararapes, foi Cararu quem o substituiu como regedor da Paraíba (Hulsman, 2006, p. 46).

Outros três destinatários de uma das cartas enviadas em outubro daquele ano e que, por meio da própria missiva ficamos sabendo serem capitães potiguaras que lutavam ao lado dos holandeses, são Pedro Valadina, Jandaia e Baltazar Araberana. Destes três últimos, não temos mais informações históricas.

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