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III
A NOTICIA DO GENELICIO

— Então quando se casa, D. Ismenia?

— Em Março. Cavalcanti já está formado e...

Afinal a filha do General pôde responder com segurança á pergunta que se lhe vinha fazendo ha quasi cinco annos. O noivo finalmente encontrara o fim do curso de dentista e marcara o casamento para dahi a tres mezes. A alegria foi grande na familia; e, como em tal caso, uma alegria não podia passar sem um baile, uma festa foi annunciada para o sabbado que se seguira ao pedido da pragmatica.

As irmãs da noiva, Quinota, Zizi, Lalá e Vivi, estavam mais contentes que a irmã nubente. Parecia que ella lhes ia deixar o caminho desembaraçado, e fôra a irmã quem até ali tinha impedido que se casassem.

Noiva havia quasi cinco annos, Ismenia já se sentia meio casada. Esse sentimento junto á sua natureza pobre fel-a não sentir um pouco mais de alegria, Ficou no mesmo. Casar, para ella, não era negocio de paixão, nem se inseria no sentimento ou nos sentidos: era uma idéa, uma pura idéa. Aquella sua intelligencia rudimentar tinha separado da idéa de casar o amor, o prazer dos sentidos, uma tal ou qual liberdade, a maternidade, até o noivo. Desde menina, ouvia a mamãe dizer: « Aprenda a fazer isso, porque quando você se casar »... ou senão: « Você preciza aprender a pregar botões, porque quando você se casar... »

A todo instante e a toda a hora, lá vinha aquelie — « porque, quando você se casar... » — e a menina foi se convencendo de que toda a existiencia só tendia para o casamento. A instrucção, as satisfações intimas, a alegria, tudo isso era inútil; a vida se resumia numa causa: casar.