não pode dar um passo, um único, sem ser auxiliada pela fé!»
Queremos que esta seja a verdade; mas pensemos então como a vida deve ser cruel e molesta para aquele eclesiástico e para toda a redacção da Nação. Imaginemos um destes homens piedosos, à noite, de chambre, à luz do candeeiro, tomando o rol à criada. Já examinou as parcelas, está a fazer a soma. A cena é solene. Uma luz mística banha as prateleiras. O gato ressona.
— 3 e 7, calcula o clérigo suando.
E imediatamente pára. A ciência bem lhe diz que são 10, mas a ciência não é nada sem o auxilio da fé — e o homem do Senhor corre a consultar Santo Agostinho. Nada porém ensina sobre essa matéria o sublime Doutor. O eclesiástico arregala para a criada um olho pávido:
— Depressa, filha, baixa-me daí a summa de S. Tomás!
E folheia...
E para a casa das dezenas interroga Santo Atanásio, e para a das centenas os
Evangelhos comparados!...
Já é de madrugada: a criada dormita’ a alvura esbatida do dia faz grandes fios pálidos nas vidraças; as andorinhas gritam na sua glória e na sua alegria; os rebanhos balam; as árvores espreguiçam-