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Para quê o discurso da coroa? Para que obrigar o chefe do Estado a repetir uma velha lauda de prosa escrita em 24, e que é hoje uma negação da verdade, uma falsificação da história? O País está desorganizado: esta certeza é dada pelas discussões do parlamento, pelos relatórios dos ministros, pelas afirmações da imprensa, pelas conversações dos cidadãos. Por consequência, ou o discurso da coroa exprime rigorosamente a opinião e a consciência do chefe do poder executivo — e então que confiança nos pode inspirar este magistrado, se ele ignora inteiramente o estado do seu país? Ou não exprime opinião alguma — e então que seriedade tem o chefe do poder executivo, vindo diante do País, quando eram necessárias palavras decisivas, recitar parolas ocas e vãs?

Sabemos perfeitamente que a coroa não é culpada do discurso que lhe obrigam a recitar, como não é responsável pela desorganização em que a obrigam a viver. A desorganização é a consequência de uma política ignorante e torpe — o discurso é a fórmula de um cerimonial antigo e rococó. Mas já que os governos não têm a capacidade de tolher a desorganização, tenham ao menos o pudor de cortar o cerimonial. E seja substituído o discurso da coroa por um franco e honrado: — Bons dias, meus senhores, toca a sentar!